Eliana Pansanato e a relação com a Mãe Natureza na Trilha das Águas

Com uma formação plural e muita empatia, Eliana criou um ambiente imperdível para quem busca turismo em Piraju

A conversa com Eliana Pansanato para a realização desta matéria aconteceu em em uma tarde ensolarada de sexta-feira. Apesar de ser via telefone, era possível ouvir os muitos pássaros que cantavam no seu sítio, o Neblina Azul. A natureza estava tão presente que um pequeno lagarto, como nossa entrevistada relatou, se aproximou da cadeira onde ela sentava para participar da conversa. “É meu amigo, ele sempre vem quando e eu estou aqui.”

Logo se percebe que a também corretora, filósofa e artesã preza pela comunhão com a natureza. Foi assim que o sítio foi planejado em permacultura, uma maneira sustentável de organizar a produção do local. E a preocupação chegou até ao material de construção. A casa onde mora com o marido Geraldo e as filhas, Marina, Ana Clara e Ananda, além de sua neta, Liz, foi erguida com tijolos fabricados de maneira ecológica, com uma técnica chamada Adobe. “Não planejei o sítio sozinha, mas numa parceria com meu marido. Ele fez os cursos de permacultura e o de agrofloresta; e eu o de plantas medicinais”.

Sua história começou como vendedora. “Antes de ser corretora de imóveis, eu vendia publicidade, depois eu fui vender carro e daí comecei a vender casas e terrenos, acabou dando certo.” Enquanto ainda trabalhava no mercado imobiliário, Eliana descobriu que gostava muito de fazer artesanatos, como os filtros dos sonhos. Sempre preocupada com o meio ambiente ela revela: “Na minha mão, o lixo vira luxo e, assim, faço artesanatos com as madeiras que eu pego da mata. Também faço a parte de artesanato de tecido, reaproveito tudo” 

Até que ela decidiu se mudar para o sítio que está a mais de 80 anos com a família do marido. A 3,4 km do centro da cidade, na Estrada Velha entre Piraju e Sarutaiá, fica o Neblina Azul, propriedade que é vizinha das cachoeiras Castelo e Arco-Íris. Eliana detalha que sempre tem alguma coisa para consertar ou melhorar no sítio e, assim, sua experiência como corretora ajuda nessas questões. Foi também nesse espírito e, acima de tudo, na tentativa de saciar a própria vontade que Eliana decidiu fazer faculdade de filosofia aos 46 anos. “Me formei como professora de filosofia, mas eu nunca dei aula. Só fiz filosofia porque era uma coisa que eu gostava muito e que também falava comigo”, conta. 

Espaço Arte da Roça no sítio Neblina Azul [Imagem: Acervo pessoal da Eliana Pansanato]

Eliana aprendeu muito com o Neblina Azul, sendo que um espaço é dedicado exclusivamente às mulheres: “Então, eu preparei um lugar aqui na mata onde tem um círculo de pedras. As mulheres vêm e a gente tem meditações, ensinamentos, bênçãos de útero e, assim, acontecem muitas curas”, explica. Ao conversar com as mulheres, sempre reforça: “elas são maravilhosas e têm esse poder de fazer várias coisas ao mesmo tempo”. 

Dentro dos planos que Eliana e sua família planejam para o sítio está transformar o pasto que havia lá em floresta, mas sem abandonar completamente a pecuária. Por enquanto, ela abriu uma loja com o produto de suas artes, passou a vender e servir cafés, bolos, pães artesanais, geléias e licores. Recebe turistas e também pirajuenses interessados no aconchego natural que ela propõe que a sua propriedade seja. 

Planos & Café

Ao longo do tempo, foi deixando o trabalho de corretora de imóveis um pouco de lado, apesar de ainda amar e prestar muito esse serviço. Passou a dedicar cada vez mais energia à sua arte e ao seu café. Complementou a sua formação com cursos de agrofloresta, plantas medicinais, turismo rural, turismo pedagógico, entre outros. Com toda essa bagagem, nossa personagem está pronta para atender e criar a experiência de comunhão com a natureza.

Espaço do café e as delícias veganas que Eliana oferece [Imagem: Acervo pessoal da Eliana Pansanato]

Ela também serve o típico café de Piraju. “Aqui muitas propriedades ainda trabalham com o café que é a douradinha, por causa dos rios, das águas. Por causa do dourado que é o símbolo da cidade. Piraju ou peixe dourado, né?”, reforça Eliana. A partir de reservas e de grupos trazidos pelos “jipeiros”, motoristas de jipes que realizam passeios turísticos,  Eliana oferece uma experiência particular para cada grupo de clientes. Após a refeição, eles podem escolher os produtos que mais gostaram e comprar mais um pouco para levar para casa.

Caminho das Águas

Pôr do sol no sítio Neblina Azul [Imagem: Acervo pessoal da Eliana Pansanato]

O sítio faz parte da chamada Caminho das Águas – Reflexão e Fé. Esse caminho é uma trilha de 107 km, entre a praça Brasilinha em Piraju e a Abadia de Itaporanga. O caminho, que também passa por Sarutaiá, Fartura, Taguaí e Coronel Macedo, pode ser feito a pé, de bicicleta e até mesmo a cavalo e pode durar alguns dias. O peregrino que trilhar o caminho passa por diversos pontos turísticos, fazendas, cachoeiras e estabelecimentos credenciados pelas prefeituras das cidades envolvidas. Em cada um desses ele carimba uma ficha oferecida pelas prefeituras. Um deles que não pode faltar é o Neblina Azul e a experiência natural que Eliana Pansanato pode oferecer.
Cartão de Credencial do Peregrino Caminho das Águas: Reflexão e Fé [Imagem: Consórcio Intermunicipal do Alto Vale do Paranapanema]

* Matheus Marques Nistal é repórter e Bolsista do Programa USP Municípios

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