Baú Tímido

só quando a flor branca
de paina velha
desabrochou uma mecha
na franja da testa
percebi que andei pelas estradas da vida
com medo
dos olhares que se aproximaram
do meu pensamento

desmanchei então, algum, em sorrisos
na dobra tímida da minha face
mas daquele que guardo como tesouro
no baú da minha felicidade nada disse

penso que o meu pensamento feliz
é frágil ao quebranto dos cachorros

penso que o meu pensamento amoroso
é perigoso ao dente das hienas

desejo e ainda resisto,
de amadurecido cair ao chão
e apodrecer de amores

mas só ofereço, cá da copa,
uma muralha de espinhos
bem armada, no caule,
com cinqüenta anos de solidão

 

* Carlos Alberto Muzille é escritor e ativista ambiental e cultural